‘Diretor(a) Escolar’ ou ‘CEO Educacional’?
Reflexões sobre influências da ideologia neoliberal em processos de gestão
Palavras-chave:
Diretor(a) escolar, Neoliberalismo, Parecer CNE/CP n. 4/2021, Análise críticaResumo
O presente artigo tem como objetivo geral analisar o papel do(a) Diretor(a) escolar frente à conjuntura do neoliberalismo hegemônico que subordina a escola às lógicas mercantilistas, impondo modelos de gerenciamento tendo em vista o alcance da qualidade total dos serviços prestados pelas instituições de ensino. Para isso, perscruta-se o teor, os aspectos fundantes e as reverberações do Parecer n. 4/2021, homologado pela Câmara Pedagógica do Conselho Nacional de Educação, o qual define uma Base Nacional Comum de Competências do(a) Diretor(a) escolar. Nos percursos metodológicos, fez-se uso de pesquisa bibliográfica e da análise documental, a partir do levantamento crítico de informações extraídas em artigos científicos e livros, bem como da investigação dos aspectos normativos de um documento urdido por um grupo de intelectuais orgânicos vinculado ao Ministério da Educação. Nesse sentido, estabelece-se uma interlocução crítica com Coube (2021), Freitas (2012), Gadotti (2019), Lima (2012, 2018), Paro (2015, 2023), dentre outros (as). Os resultados das observações aqui empreendidas revelaram que à figura do(a) Diretor (a) vem sendo imputadas exigências de teor neoliberal que desconsideram questões estruturais deficitárias existentes no campo da educação e, por corolário, nas unidades formais de ensino, ensejando a criação de contextos análogos ao de uma empresa, ao se buscar ideias de eficiência, efetividade e eficácia sem levar em consideração os sujeitos pedagógicos, suas idiossincrasias, reais necessidades e multifacetadas interrelações.
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