“O sertão é o mundo"
um diálogo entre a crise hídrica na Amazônia e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
Palavras-chave:
Amazônia, Crise hídrica, Grande Sertão: Veredas, Desigualdade socioambiental, SustentabilidadeResumo
A Amazônia, reconhecida como a maior reserva de água doce do planeta, enfrenta um paradoxo socioambiental: apesar da abundância hídrica, muitas comunidades da região sofrem com a escassez de água potável e a falta de infraestrutura básica, remetendo-nos a um sertão. Neste sentindo, este artigo propõe um diálogo entre a crise hídrica na Amazônia e a obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, utilizando-a como referência metafórica. A célebre expressão "o sertão é o mundo" sugere que os desafios presentes na narrativa rosiana transcendem um espaço geográfico específico, refletindo desafios universais — entre eles, os enfrentados na Amazônia. A manipulação ambiental e as desigualdades estruturais reforçam a noção de um “sertão amazônico”, no qual a luta pelo acesso à água se configura como um cenário de contradições. A literatura, ao abordar questões socioambientais, amplia a compreensão das problemáticas contemporâneas e evidencia que os desafios amazônicos não são casos isolados, mas sim manifestações de dilemas globais sobre a relação entre humanidade e natureza. Para mitigar os efeitos das crises hídricas amazônicas, seria necessária a implementação de políticas públicas efetivas, o fortalecimento da educação ambiental e o reconhecimento da água como um direito fundamental, indispensável para a promoção da sustentabilidade e da justiça social. Este estudo tem como objetivo demonstrar, a partir da obra de João Guimarães Rosa, que o sertão ultrapassa a condição de mero espaço físico, configurando-se como uma metáfora universal da experiência humana. Nesse contexto, o sertão representa um lugar simbólico onde se travam constantes disputas por identidade, recursos e justiça. A metodologia empregada na elaboração do presente artigo fundamenta-se em pesquisa bibliográfica, com foco na análise do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, além da consulta a artigos científicos que tratam da problemática hídrica na bacia amazônica. A articulação entre literatura e realidade socioambiental objetiva ampliar a compreensão dos dilemas humanos presentes tanto na ficção quanto na realidade amazônica.
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