Práticas de escolarização precoce na Educação Infantil
influências da ideologia e da racionalidade neoliberais
Palavras-chave:
Escolarização, Educação Infantil, Neoliberalismo, Ideologia, RacionalidadeResumo
O presente artigo objetiva analisar a busca pela escolarização precoce nos contextos da Educação Infantil, por meio da adoção de livros didáticos, apostilas e, dentre outras estratégias, da antecipação de práticas alfabetizatórias, atitudes assentadas no paradigma de que de tal oferta possibilitaria um melhor desempenho escolar em fases posteriores e, como consequência, no mercado de trabalho futuro. Optou-se, metodologicamente, pela pesquisa bibliográfica, com a revisão de obras de cariz pedagógico e artigos científicos inerentes ao tema em comento, disponíveis em sítios eletrônicos. No referencial teórico-epistemológico, aparecem os contributos de Ariès (1978), Corazza (2015), Cunha e Silva (2019), Faria (2005), Ferreiro (1988), Fochi (2023), Freitas (2015, 2018), Nascimento (2009), Oliveira (2007), Postman (2007), Sacristán (2003), dentre outros/as autores/as que fundamentam, intercriticamente, as discussões aqui delineadas. Os resultados desta investigação permitiram observar que a racionalidade e a ideologia neoliberais, no campo da educação, vêm incentivando a construção de um modelo de infância homogêneo calcado no ideal de eficiência e produtividade, escamoteando ou prescindindo nuances sinestésicas indispensáveis à formação integral das crianças, situação que urge ser superada, haja vista ser necessário (re)construir possibilidades educacionais que coloquem em relevo experiências político-pedagógicas permeadas pela imaginação, pelas brincadeiras e pela descoberta dos mundos real e simbólico.
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